quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ilustrar Pessoa


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AÇORDA ALENTEJANA

Alentejo - Armando Alves


PÃO DE TRIGO, SEM TER SOMBRA DE JOIO;
AZEITE DO MELHOR, DE sANTARÉM;
ALHO DO MAIS PEQUENO E DO SALOIO.
PONHA EM LUME BRANDINHO E MEXA BEM.

SAL QUE NÃO SEJA INGLÊS-PORQUE É REMÉDIO
TODA A CRIANÇA ASSIM ALIMENTADA
É CAPAZ DE DEITAR ABAIXO UM PRÉDIO,
QUATRO MESES DEPOIS DE DESMAMADA.

COM ESSE BOM PITÉU SEM REFOGADOS,
INVENÇÃO PURAMENTE LUSITANA,
OS ILUSTRES VARÕES ASSINALADOS
PASSARAM INDA ALÉM DA TAPROBANA.

FORTES P'LA AÇORDA, DEMOS AOS MOUROS
COMO SE SABE, UMA FATAL DERROTA;
E ABISCOITAMOS MAGESTOSOS LOUROS
PARA OS NOBRES TROFÉUS DE ALJUBARROTA.

José Inácio de Araújo (1827 - 1907 ), poeta de cariz cómico, autor de tragédias burlescas e tradutor das fábulas de La Fontaine


RECEITA:

Ingredientes ( 4 pessoas )
500g de pão de trigo duro
1 molho de coentros
3 dentes de alho
4 colheres de sopa de azeite
4 ovos
1 colher de sopa de sal grosso
1 chávena de água

Corte o pão em fatias.Escalfe 4 ovos em água com duas gotas de vinagre.Corte os coentros e o alho e pise-os minuciosamente, juntamente com o sal, num almofariz.
Deite esta massa numa terrina e regue com azeite.Adicione a água a ferver e misture a massa com a água até aquela se dissolver.Por fim, coloque as fatias de pão e, se pretender obter a açorda macia, tape a terrina durante 5 minutos.Em cada prato, coloque um ovo escalfado.

BON APETIT...dona Virginia!!!

domingo, 12 de abril de 2009

Ramalho Ortigão e as batatas fritas

Fish and chips

Ramalho Ortigão adorava batatas fritas. Eis o texto com a receita:“Saibam todos os meus adversários o modo por que eu procedo quando intento oferecer aos meus amigos esse delicioso manjar das batatas fritas. Está já agora decidido... Não! não morrerás comigo, ó doce, ó bom, ó divino segredo!“Apercebo-me mandando vir de Sintra a manteiga mais fresca, e compro as melhores batatas que encontro. Depois disto vou para a cozinha e sento-me à banca das operações. Descasco as batatas cruas, aparo-as escrupulosamente e parto-as em fatias de meio dedo de grossura. Em cima do lume muito brando, quase de um rescaldo, coloco a minha frigideira de porcelana, lanço-lhe um bocadinho de manteiga e vou alourando pouco a pouco, branda e sucessivamente, as minhas rodelas. É uma operação para que se não quer pressa, mas dedicação, mimo e paciência.“Depois de meio fritas as batatas, vou-as retirando e pondo à janela ao ar. Terminado este primeiro serviço, faço atear uma forte fogueira e reponho no lume a frigideira com um grande naco de manteiga. Quando esta, derretida, principia a saltar em bolhas de fervura, lanço-lhe outra vez as batatas afogadas na manteiga em ebulição, empolam então pronta, rápida, portentosamente e cada uma das rodelas toma logo uma forma esférica. É admirável, é quase miraculoso o resultado deste processo. A batata fica fofa, amanteigada, farinhenta, inchada, leve e mole como uma filhó ou como um sonho!”
Hoje em dia a manteiga seria substituida pelo azeite vegetal que faz melhor á saúde! Claro que também não devemos abusar deste delicioso manjar tão querido por Ramalho Ortigão pois os fritos... esses... estão proibidos!

domingo, 29 de março de 2009

O "Primo Basílio" e a sopa da Juliana

Sopa Arcaica/Guilherme Mansur
Juliana era a empregada doméstica, em "O Primo Basílio" que tão bem confeccionava a sopa...Convenhamos que ainda hoje a sopa da dita tal Juliana nos conforta e aquece, principalmente numa boa noite de inverno!

Ingredientes
5 batatas /1 cebola /2 dentes de alho /3 colheres (sopa) de azeite
1 couve portuguesa /2 cenouras sal q.b.

Preparação
Descasque as batatas, a cebola e os dentes de alho e coza-os em água temperada com sal a gosto e o azeite. Depois de cozido, reduza a puré. Junte então a couve portuguesa e as cenouras cortadas em juliana e deixe cozer. Sirva quente.

terça-feira, 10 de março de 2009

António Correia de Oliveira e o caldo sem broa!

Que doce e boa, que profunda liga,
Que núpcias de sustento e de sabor,
Fazem o caldo e o pão do cavador
No farto bojo da tijela antiga!
É verde o caldo, e loira a broa...
Diga quem viu, se não parece, em jeito e em cor,
Um girassol, abrindo a áurea flor,
Sobre um tufo de relva, à luz amiga!
Não tendo a broa, o caldo é quase nada:
Perdeu o gosto, e não levanta a enxada
Homem que é só, lareira sem rescaldo.
"Carne da minha carne..."Um tanto a esmo,
Direi, que enfim o bom sentido é o mesmo
-Caldo sem broa?... Que solteiro caldo!
E agora vamos à receita do dito Caldo :
Ingredientes para cinco pessoas
1 couve galega
600 gr de batatas
5 rodelas de salpicão de Barca d'Alva
5 colheres de azeite de Moura
5 fatias de broa de milho sal qb.
Preparação
Cozem-se as batatas em 1,5 l de água, temperada com sal, com 4 colheres de azeite.Reduz-se a puré e leva-se novamente ao lume.Quando levantar fervura, junta-se a couve migada.Deixa-se o cado verde cozer com as a panela destapada.Coloca-se em cada prato uma rodela de salpicão e uma fatia de broa.Deita-se o caldo verde por cima e rega-se com o restante azeite em fio....e rega-se com um pingo do vinho dos mortos de Foz Côa!...
Bon apetit!
Rosa de Santa Isabel

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pelo cozido com... Torga

Fabien Veançon
ilustrador
Em tempo de Carnaval, ninguém levará a mal se prevaricarmos um pouco, só mesmo um pouco... das nossas próprias imposições saudáveis de não comer materiais gordos (gordura só vegetal e biológica!), de não comer muitos enchidos etc. etc.
Mas, como estamos em Carnaval.... façamos como Torga e atiremo-nos à “… trindade tradicional do reino: os presuntos, as alheiras e os salpicões, (…) ”. Que tal?!

Ingredientes:

400g de novilho para cozer , 1/2 frango e 500g de pá de porco
300g de toucinho e 1 chouriço de carne
1 chispe e 1 orelha, 1 farinheira e 1 morcela
6 batatas médias , 4 cenouras e 4 nabos
1 couve-lombarda
sal,
pimenta, cravinho e hortelã q.b.

Preparação: Numa panela com água a ferver, introduzem-se as carnes de novilho e tempera-se com sal, pimenta em grão, cravinho e hortelã. Deixa-se cozer suavemente. Quando a carne estiver tenra, retira-se e mantém-se coberta, com um pouco de caldo, para que permaneça quente e suculenta.
Juntam-se os pedaços de frango, de pá de porco, de toucinho e o chouriço de carne. Acrescenta-se ainda o chispe e a orelha depois de devidamente escaldados à parte. Adicionam-se as batatas, as cenouras e os nabos e após levantar fervura acrescenta-se a couve-lombarda. Mantém-se em lume médio até estar tudo cozido. Num tacho à parte coze-se a farinheira e a morcela.

Serve-se tudo bem quente!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Eça de Queiroz e o Frango Assado no Forno

Um dos pratos mais comuns em muitas casas portuguesas é o FRANGO
ASSADO NO FORNO já citado por Eça de Queiroz em A CIDADE E AS SERRAS:
"Diante do louro frango assado no espeto e da salada (...) a que apetecera na
horta, agora temperada com um azeite da serra digno dos lábios de Platão,
terminou por bradar: divino'."


Para os que, neófitos nestas coisas da culinária, ainda não conhecem como fazer magia com este manjar aqui fica a receita:

1 frango médio
1 chouriço
3 dentes de alho
salsa
1 (sopa) massa de pimentão
1 (sopa) de banha
1(sopa) de margarina
meio limão
1kg de batatas
1( sobremesa) de colorau
azeite a gosto
1 malageta pequena
2 dl de vinho branco

Tempera-se o frango 3 horas antes, para tomar bem o gosto. Primeiro abre-se o frango pelo peito , lava-se e seca-se. Esfrega-se com o meio limão. Numa picadora faz-se uma pasta com o chouriço, os alhos, a salsa e a malageta. Depois numa tijela mistura-se a pasta com a massa de pimentão, a banha, a margarina e barra-se o frango todo com essa pasta.
Entretanto, cortam-se as batatas, temperam-se com sal, colorau e um fio de azeite.
Quando for para cozinhar, dispõe-se tudo num tabuleiro (batatas e frango) rega-se com o vinho branco e vai ao forno cerca de uma hora.
Durante a cozedura vai-se regando com o próprio molho.

Receita retirada do Portal da Gastronomia.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Se é pra viver que a vida me leve: Pra existir história...

Se é pra viver que a vida me leve: Pra existir história...

...ya no hay nada: - pasado,
futuro, sombras, gozos -,
por fuera de nosotros...this is...the end.

the end?
nothing ends completly...
just our own impossibility...



domingo, 15 de fevereiro de 2009

Bacalhau com broa

Em Freixo de Espada à Cinta, terra de nascimento de Guerra Junqueiro assiste-se a um desenrolar de divinos paços que se desdobram diante dos nossos olhos como se de um "claro mistério/Do azul etéreo!/sonho sidério! Luz!" (Guerra Junqueiro) se tratasse!

Falo da Estalagem de Nossa Senhora das Neves que encontrando-se magnificamente implantada no coração da Serra de Bornes, perto de Alfandegada Fé, a cerca de 1000 metros de altitude, proporciona uma deslumbrante vista, "da terra dorida/alento e guarida!/fermento de vida, Luz".
Nesta estalagem come-se um bom bacalhau com broa, regado com vinho da região. Dorme-se uma soneca a seguir embalado daquele imenso céu infinito que Guerra Junqueiro tanto gostava referindo-se-lhe desta forma:
"Ora o infinito só se compreende e se traduz em presença da natureza livre. O homem, fechado entre quatro paredes, por mais livre que julgue ser, é sempre um enclausurado. por isso o meu pensamento nada exprime se o não libertar, arrancando-o à clausura. "

Bacalhau com broa
Tempo: 1 h / Rendimento: 4 porções
Ingredientes: 1kg de batatinhas, 4 postas de bacalhau demolhado, 200ml de azeite CASA ARAGÃO, 100ml de vinho branco, 1 folha de louro, ½ broa de milho, 1 cebola, 4 dentes de alho, 1 ramo de coentro, sal e pimenta a gosto.

Preparo: Cozinhe as batatas com a casca. Descasque-as e reserve-as. Leve o bacalhau ao forno, a 200ºC, com o azeite, o vinho, o louro e pimenta. Deixe assar por 15 minutos.
Após esse tempo, retire metade do molho e, neste, esfarele a broa e junte a cebola picada. Distribua este preparo sobre as postas de bacalhau. Coloque as batatas e o alho, à volta e leve, novamente, ao forno para dourar. Decore com coentro.

Sugestão: Junte à mistura de broa uma colher, das de chá, de colorau e uma de vinagre.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Dobrada à moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão; nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta.
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

( Sei bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje.)

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, por que é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio, mas veio frio.

Álvaro de Campos

Receita de dobrada à moda do Porto

ingredientes (8 pessoas)

2 kg de dobrada de vitela
1 frango médio
1 mão de vitela
160 gr de chouriço transmontano
160 gr de presunto de chaves
550 gr de feijão branco ou feijão manteiga
50 gr de banha de porco
3 dentes de alho
150 gr de cebola
300 gr de cenouras
50 gr de sal grosso
pimenta moída e salsa, q.b.

Preparação

Lava-se muito bem a dobrada, tirando as peles.Leva-se a cozer durante apróximadamente 4 horas em água temperada com salgema. Coze-se separadamente a mão de vitela em água com uma pitada do mesmo sal. À parte faz-se um refogado com a banha, salsa picada, cebola e alho. Antes da cebola aloirar junta-se a dobrada cozida cortada aos pedaços, a mão de vitela cozida e desossada, bem como o frango cortado aos bocados, o presunto cortado ás tiras, o chouriço, as cenouras, sal, pimenta e o feijão já cozido.Depois de tudo bem cozido serve-se quente!..."a dobrada à moda do Porto...nunca...se serve fria!..."
Rosa de Santa Isabel

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A neta do Sr.Lihn - Philipe Claudel

O Sr.Linh fugia da guerra!
Caminhava sem rumo e sem esperança num país estranho, onde não conhecia nem amigos nem parentes. Desconhece também a língua desse país que agora o acolhe, deixando para trás a guerra, a devastação e a morte.
Que faz este livro cheio de imagens e sentimentos de tristeza num blog que tem a pretenção de chamar-se sabores de doces e de livros, perguntarão vós?
Bom, a explicação é simples: "A neta do Sr. Linh", de Philipe Claudel, fala-nos sobretudo da amizade, tema universal de grande abrangência, que fica bem à volta desta mesa, que certamente vai ser cheia de sabores amigos que nos transportarão para além de todas as utopias:
"É o início de uma belíssima Primavera. Um primeiro esboço"
Virgínia Coutinho

X Festival de Sabores Mirandeses

(retirado de Espigueiro-jornal on line)